Relíquias de ontem e de hoje

Quem gosta de arte, em especial arquitetura, já deve ter lido ou visto algo sobre a magnífica obra que é a Sainte Chapelle, localizada na ilha de la Cité, em Paris. A capela, em estilo gótico, foi construída no século XIII por Luís IX (a.k.a. São Luís) e seu projeto, que data de 1241, foi iniciada em 1246 e concluída muito rapidamente, sendo consagrada em abril de 1248. O seu patrono foi o devoto rei francês Luís IX, que a construiu para servir de capela do palácio real. O restante do palácio desapareceu completamente, sendo substituído pelo atual Palácio da Justiça. Depois de terminada a Sainte-Chapelle carecia de santificação com a presença de relíquias apropriadas e, assim, obteve-se a coroa de espinhos de Cristo, em posse do Imperador de Constantinopla, Balduíno II, pela exorbitante soma de 135.000 libras. Para ter uma ideia do valor, a construção de toda a capela custou 45.000 libras. À coleção de objetos sagrados que acabou se transformando o templo, acrescentou-se ainda um fragmento da "Verdadeira Cruz” e, desta forma, o edifício tornou-se um precioso relicário.
O comércio de relíquias na Europa Católica foi intenso não só pelo valor monetário que estes objetos possuíam, mas também como intensificadores do poder da Igreja. Coisas absolutamente inusitadas eram vendidas aos poderosos, como, por exemplo, falanges, falanginhas e falangetas de santos mártires, garrafas com o genuíno leite de Nossa Senhora e até as fraldas do Menino Jesus.
Hoje é fácil de encontrar no eBay coisas "intituladas" como relíquias em leilão (o que demonstra como o "sagrado" mudou de lugar) como a toalha que Axel Rose enxugou seu suor, o copo que Amy Winehouse bebeu (este ítem é fácil), a caixa de ansiolíticos (vazia) de Paris Hilton, um fio de cabelo de Britney Spears (este ítem caiu de valor depois que ela raspou a cabeça na clínica de rehab) e por aí vai. Que coisa, heim?