quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Olha pra mim...






Estes impactantes trabalhos de ilustração são parte da obra do jovem artista francês de 22 anos, Florian Nicolle, recém graduado numa escola de design gráfico em Caen, França. Seus desenhos são conhecidos na web e sua página pessoal recebe visitantes aos montes diariamente. Como gosto de ilustração, não pude deixar de ir lá conferir a obra dele e fiquei surpreso com o virtuosismo do artista e também com os comentários deixados pelos internautas, a maioria dizendo como ficaram impressionados com os desenhos que parecem "olhar" para o espectador. Realmente com freqüência Florian, que assina como Neo, retrata seus personagens nesta atitude de "encarar" quem os observa e aí pode residir, para a maioria dos visitantes, uma curiosidade. Eu, porém, fico mais seduzido pelo domínio técnico: o cara é muito bom.

748.600






O número no título deste post é o resultado de um programa virtual de formação prática em curadoria concebido pela curadora Rejane Cintrão e empreendido pela Expomus. Em novembro de 2010, o projeto curatorial de Renan Araujo, 748.600, foi escolhido para ser exposto no Paço das Artes, no Campus da USP, em São Paulo. A coletiva, que abre agora e vai até março, coloca em evidência obras de 14 artistas brasileiros da década de 1970 até hoje, nas quais o dinheiro é o assunto principal, e lá estão Caio Reisewitz, Carmela Gross, Cildo Meireles, Clara Ianni, Coletivo Filé de Peixe , Denise Rodrigues, Deyson Gilbert, Gerty Saruê , Jac Leirner, Lourival Cuquinha, Marcelo Cidade, Paulo Climachauska, PINO e Rodrigo Matheus
O objetivo desta mostra é evidenciar as questões existentes na produção de artistas brasileiros na qual a prática econômica aparece como mote da construção objetual: subversão do capital, status adquirido, força de trabalho, reinterpretação da economia e formas de escoamento, criação de uma marca de produtos sem funções reais e a conquista de um território aliado à política, sempre de uma forma crítica e com o risco das contradições.
Observa-se que, aliada ao acúmulo e ao capital, existe a ideia de poder, que impera nas obras como consequência, em trabalhos em que aparecem questões como a religião, o Estado, a pornografia, as burocracias e os ambientes legais ou ilegais. O recorte parte da década de 1970, com obras para o espaço expositivo e outras externas.
A ideia da curadoria não é negar o capital, apenas mostra como é seu funcionamento e o que cada artista interpreta como realidade.
Mas, a que se refere o número que intitula a exposição? Ele é a quantia de grana que teve de ser captada para financiar o projeto. E o aspecto econômico não ficou só nesta referência: até o texto do catálogo foi revisado por especialistas em economia para tornar mais preciso os argumentos da curadoria.
Realizada num momento muito positivo do mercado de arte brasileiro - cuja venda de ítens artísticos bateu recordes em 2010 - e também da exacerbação e ultra valorização da arte no mundo, a reflexão trazida pela mostra é muito bem vinda. O letreiro "SE VENDE", que está na fachada do Paço, de autoria de Carmela Gross, já dá uma boa medida do que acontece lá dentro.
Acima trabalhos de Caio Reisewitz, Jac Leirner, Cildo Meireles, Marcelo Cidade e Carmela Gross.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Dior Illustrated: René Gruau and the Line of Beauty







Os fãs londrinos da importante Maison Dior foram premiados com uma exposição no mínimo maravilhosa: a Somerset House organizou uma extensa reunião dos trabalhos do ilustrador René Gruau (1909-2004), mestre do desenho que trabalhou durante anos para Christian Dior fazendo os sketches das criações do estilista. Os exemplares que fazem parte desta mostra foram escolhidos pessoalmente por John Galliano, o designer renovador da grife francesa.
Nascido na Itália, Gruau foi responsável pela criação de algumas das mais icônicas imagens da moda no século XX. Ele foi ilustrador de moda por mais de 60 anos e neste tempo trabalhou e se transformou em amigo particular de Dior, o que foi importante fator na colaboração que deu à maison do estilista. Mas Gruau não trabalhou só com ele: muitas outras casas de moda, como Givenchy, Schiaparelli e Balmain tiveram suas criações divulgadas em importantes magazines saídas das mãos do ilustrador, porém foi com Dior que ele alcançou o status de clássico.
Gruau trabalhou para a Maison Dior por 50 anos, desde 1947 até 1990 e durante este tempo cultivou esta citada amizade por Dior a ponto de, mesmo após a morte deste, em 1957, continuar trabalhando para o ateliê, o que fez ganhar a admiração de John Galliano, atual desenhista da grife, que na divulgação na imprensa do evento londrino, disse as seguintes palavras: "Para mim o desenho de Gruau captura a energia, a sofisticação e a ousadia de Dior, e igualmente testemunha sua longa amizade pelo mestre".
Gruau morreu em 2004 e sua obra permanece ainda viva em museus, galerias e coleções de arte por todo o mundo, inclusive no Louvre, em Paris.

Niemeyer 10.3






Ao completar seu centésimo terceiro aniversário, o imbatível arquiteto brasileiro Oscar Niemeyer foi presenteado com a inauguração do Centro que leva seu nome na cidade de Aviler, na Espanha. Ao ser contratado para fazer o projeto dos prédios que fariam parte da revitalização urbana e econômica de uma parte da cidade que ficava à margem do rio e era ocupada por um lixão de dejetos industriais, o mestre das curvas criou um conjunto de elementos arquitetônicos coerentes com seu pensamento mais recente, ou seja, uma grande área limpa com tres construções onde imperam as suas ondulações, contrastando com a amplidão do espaço circundante. Mais uma vez o impacto ficou por conta da monumentabilidade do projeto em contraste com a antiga cidade espanhola. Parabéns e longa vida para ele.

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Senior



Conforme o prometido quando do lançamento do disco Junior, em 2010, o Royksopp lançou na virada do ano sua nova obra musical Senior. Para alguns fãs foi uma surpresa ouvir as faixas porque o duo norueguês optou por fazê-las só instrumentais. Não que isto fosse uma surpresa: nos seus álbuns anteriores as faixas sem vocais eram freqüentes e reforçavam am alto nível a proposta musical dos componentes da banda. Porém os vocais eram muito bons e a ausência deles neste novo disco causou certo impacto, mas é coisa passageira: o álbum é muito bom.
O Royksopp foi criado em 1998 em Tromsø, Noruega, e é composto dos músicos Svein Berge e Torbjørn Brundtland, além de convidados que frequentam seus discos desde o lançamento do álbum Melody A.M., em 2001. A proposta eles é experimental com um mix de várias formas de musica eletrônica, desde um house, até um drum and bass, passando por influência afro-americana, o que gera resultados excêntricos e que fazem com que o som deles seja marcante e explica bem o sucesso que possuem na cena eletrônica mundial e na mídia: já foram indicados ao Grammy, ganharam sete prêmios Spellemannprisen, e frequentam as listas de best of no mundo todo. Suas performances ao vivo são arrasadoras, que conferi em Paris a uns anos atrás. E olha que eles fizeram a prévia do Sigúr Rós, outra pauleira eletrônica.
O disco Senior possui as faixas And the foorest began to sing, Tricky Two, The Alcoholic, Senior Living, The Drug, Forsaken Cowboy, The Fear, Coming home, A long, long way e o clima downtempo prevalece na maioria, dando um ar reflexivo e intimista à obra. Se você quer encontrar no álbum o clima dançante de Junior, esqueça: aquele climão do ano passado, que fez a alegria de muitos DJs que remixaram suas faixas à exaustão, ficou longe neste atual. Mas, repito, Senior é muito bom. Ganhei o disco do mesmo amigo , o Thiago, que é meu "fornecedor oficial de Royksopp" (rs...) e pretendo levá-lo como soundtrack na viagem que farei à Europa mês que vem, principalmente porque a música The Alcoholic foi descrita pela banda como: "uma idéia nostálgica baseada naquele vagabundo que pede carona em trens e viaja de lugar a lugar". É isso aí...

domingo, 23 de janeiro de 2011

Frozen



Como sou designer gráfico (também...) não deixo passar batido alguma coisa que me impressione dentro desta área. Foi como uma bela surpresa que conhecí as embalagens da firma curitibana de comida congelada Stoll & Stoll Alimentos Preparados que, além de produzir uma comida de qualidade se preocupou em condicioná-la em embalagens simplesmente geniais. A idéia veio dos irmãos Leandro e Thiago Stoll que, felizmente, decidiram largar suas carreiras de médico e proprietário de bar para investir na área de alimentos e criarem a boutique de congelados que leva seus nomes em Curitiba, oferecendo saborosas receitas tradicionais - Lasanha à Bolonhesa, Empadão de Frango com Roquefort e Feijoada - para aqueles que são ocupados demais para cozinhar. Como se não bastasse a qualidade da proposta os empresários se preocuparam em manter também um alto nível no preparo da comida: os ingredientes são de origem controlada e muitos são cultivados nas hortas da empresa.
Bem, o post ficou com cara de publicidade paga, mas não é...rs...É mesmo um modo de festejar a incrementação do design brasileiro e ter o orgulho de vê-lo citado em renomadas publicações nacionais e internacionais, como é o caso das embalagens dos Stoll brothers. Estão de parabéns.

Inventores e criadores geniais






Os designer brasileiros Fernando Mendes de Almeida e Roberto Hirth são premiadíssimos pelas suas criações de peças de mobiliário e desde 2002 possuem seu estúdio no Rio de Janeiro. Ambos tem formação na área de desenho industrial e carpintaria, mas tanto Hirth quanto Almeida já possuíam genes que justificam sua opção artístico/profissional: Roberto é descendente de Laubisch-Hirth, um renomado membro de uma família sul-americana de moveleiros, e Fernando é primo de Sérgio Rodrigues, nome importantíssimo do design brasileiro, com quem, inclusive, trabalhou por sete anos. Com este DNA especial, da cabeça de ambos saiu a cadeira "Aviador" (a de assento de couro nas fotos) que foi premiada internacionalmente e é ítem procuradíssimo pelos admiradores da dupla.
Sem usar pregos ou parafusos, as criações destes artistas também respeitam o meio ambiente, procurando usar madeira legalizada de plantio e extração ecologicamente correta. Particularmente tenho aprêço por estes dois criadores porque criaram uma cadeira - que parece mais uma poltrona - que batizaram de Santos=Dumont, em homenagem ao meu famoso conterrâneo. Inspirada no design do avião Demoiselle, obra prima do gênio da aviação mundial, a peça tem a leveza que o inventor procurou dar ao seu modelo de aeronave criado nos primeiros anos do século XIX e o resultado é a maravilha que pode ser conferida na primeira foto acima deste post. Como o trabalho de cada objeto é artesanal, portanto, único, os designers numeram cada criação para dar a autenticidade que, com certeza, devido ao alto nível de durabilidade, fará diferença no futuro. Coisa de visionário.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Uma imagem vale por mil palavras


É chavão, mas esta foto é um depoimento sobre a alma de Vivian.

Maier por ela mesma






Vivian Maier foi autora de vários auto-retratos que são depoimentos contundentes da sua diluição no espaço das cidades.

Maier e a cidade






O espaço urbano sob o olhar de Vivian Maier.

De volta à luz






Ela nasceu na França mas mudou-se ainda jovem para a América, onde exerceu a função de babysitter por um bom tempo da sua vida no período que morou entre Chicago e Nova York. Vivian Maier era apaixonada por fotografia e fez registros maravilhosos com a sua Rolleiflex quando saía pelas ruas, assim como uma flanêur,captando o que achava interessante. Aí, então, podemos encontrar o diferencial que fez com que esta artista marcasse terreno na fotografia moderna: Mme. Maier olhava com visada apurada para a vida nas ruas das metrópoles, registrando espaços e pessoas, procedimento que podemos comparar com o que hoje é feito como "vanguarda" pelo Sartoralist Scott Schumman e Garance Doré. Porém, na metade do século passado, o anonimato era mais acessível do que a visibilidade, e as imagens desta mulher ficaram meio perdidas.
Em 2007, John Maloof, um jovem escritor comprou uma caixa repleta de negativos enquanto fazia uma pesquisa para o livro que estava escrevendo e acabou por ficar apaixonado pelo trabalho da desconhecida fotógrafa. Desde então, Maloof não poupou esforços em explorar ainda mais o trabalho dela, bem como em descobrir a identidade da autora de modo a garantir o seu devido reconhecimento. Munido de um interesse de colecionador, Maloof encontra-se atualmente reproduzindo digitalmente todo o arquivo pessoal de Vivian, bem como, a lutar pela divulgação e reconhecimento deste maravilhoso trabalho.
Nossa artista faleceu aos 83 anos sem saber que foi uma das melhores fotógrafas de rua de todos os tempos.
Como sou um admirador da vida urbana - da "alma encantadora das ruas", como disse João do Rio - o impacto que tive ao ver as imagens de Vivian (sugestão do amigo Fred Spada) foi de arrebatamento. Acho que ela fez um belíssimo ensaio sobre uma situação que se instalava nas cidades e que, com o andar do tempo, se espalhou por todos os centros urbanos, independentemente se é uma cidadezinha do interior ou uma megalópole: os cidadãos comuns se misturam com os exilados urbanos, a cidade se transforma entre as novidades e as ruínas, e os constrastes se estabelecem como marca de um espírito que chegava para ficar.

Lixo tecnológico e arte






A produção de lixo na nossa cultura é uma preocupação que era da esfera dos ambientalistas, depois passou para a dos economistas, daí para a dos governistas e agora é de todo mundo. Fazer o que com tanta tralha jogada fora? Se cada um toma uma posição e faz a sua parte, alguns fazem isto de modo único e criativo. Vejamos...
Nossa produção de novas tecnologias acaba por criar um descarte daquilo que ficou "velho" antes mesmo que sua vida útil tenha se extinguido: é o que vimos com os discos de vinil, fitas cassetes, fitas de vídeo, disquetes de computador e por aí vai. O que fazer com isto, além do óbvio, ou seja, jogar no lixo? Algumas respostas são dadas por designers, estilistas e artistas de maneira particularmente nova. Este é o caso de Nick Grentry que faz sua obra plástica usando suportes de fitas de vídeo e disquetes de computador. O trabalho é interessante e surpreende pelo inusitado. Nick é um artista jovem ( a última das imagens acima é um auto-retrato) e faz sua obra em sintonia com seu tempo,contando com a ajuda de pessoas que vivem da coleta e reciclagem de lixo.