quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Um personagem de Natal






Lí nesta madrugada um comentário numa resenha a respeito do filme Ed Wood, de Tim Burton, como sendo propício ao espírito natalino. Nunca havia pensado nele desta forma. Como o reví recentemente (junto com o Glen or Glenda original), percebí logo que o resenhista tinha razão: o personagem é de tal maneira envolvido num olhar de maravilhamento com o mundo que chega às raias da iluminação espiritual.
Tim Burton fez este filme em 1994 e chamou seu alter ego, Johnny Depp, para viver o controverso diretor americano, autor de vários filmes de constituição precária, que o catapultaram para o título de pior diretor de cinema do mundo, mas que a cultura trash promoveu a ícone absoluto. Seu filme Plan Nine From Outer Space só perde para Pink Flamingos (John Waters) como a produção mais lixão já feita até hoje, ganhando até de coisas como Boxing Helena(Jennifer Lynch). Well...
Ed Wood tinha uma visão romântica e ingênua do mundo e achava perfeitos seus filmes mambembes. Mal sabia ele que eram, na verdade, obras que se bastavam a si mesmas e por isto continham um belo comentário sobre o que é fazer cinema. Percebe-se claramente que o olhar de Ed era totalmente despido de maldades e sua intenção e relação com os atores e equipe (que equipe?) era de reverência e amor. Não é atoa que ele convocava seus intérpretes entre as pessoas com que convivia no dia-a-dia, fosse o dentista, o açougueiro ou um ator decadente, como foi o caso de Bela Lugosi. O resultado de tudo são maravilhas ingênuas que colocam um sorriso de aquiescência no nosso rosto quando as assistimos e instalam no nosso olhar para o mundo a perspectiva do encantamento.
Taí uma boa pedida para esta noite de demonstração de afetos.

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