domingo, 25 de outubro de 2009

A LUZ E AS SOMBRAS DE APPIA






Adolphe Appia nasceu em Nyon no dia 1 de setembro de 1862, e faleceu em Genebra,no dia 29 de fevereiro de 1928. Formou-se em arquitetura e trabalhou como cenógrafo teatral - óperas principalmente- e concebeu teorias nesta área, especialmente no campo interpretativo da luz, cujos conceitos ajudaram a concretizar as encenações simbolistas do século XX.
Appia era contrário a estética realista, por isso quis se utilizar dos elementos expressivos e simbólicos do teatro, da música, e da luz, sendo o primeiro a usar as sombras no palco de forma deliberada, influenciando assim, as modernas concepções de iluminação teatral.
Sua contribuição marcou pela ousadia, que se torna a palavra mais apropriada para falar deste artista que pensava à frente de seu tempo, em especial à inmportância que deu à iluminação cênica deixando de lado aquela luz que somente servia para fazer uma "geral" no elenco e cenários pintados, dando o primeiro passo para um verdadeiro estudo da arte da iluminação cenográfica. Appia foi o primeiro a tentar estabelecer um sentido de união entre a luz, cenografia e artista, fazendo um todo, onde tudo que vemos num espaço cênico é extremamente importante.
Por ser arquiteto e um grande teórico da luz e cenografia, percebeu logo a importância da iluminação, concebendo-a como ressalto às formas geométricas, de maneira a incidirem sobre o espaço do palco, projetando a devida proporção espacial dando uma dimensão mais completa ao artista em cena.
Appia fez parte de um corrente teatral chamada de simbolista, que surgiu no século XX, cujo fundamento era criar na fronteira da realidade uma nova realidade através de simbolos, quebrando o realismo em cena, fazendo com que esse novo teatro e seu espaço sofresse uma grande revolução.
A partir dessa idéia de evocar imagens cênicas, a luz tornou-se elemento expressivo de grande importância, e originava uma configuração espacial com sombras e volumes reais, que até então só existia nas pinturas dos dioramas e caixas cenográficas, alternando o visual do expectador levando-o a alterar sua a noção do espaço em cima de um palco.
Mas nessa contribuição em quebrar paradigmas da época, substituindo a imitação (realismo) pela sugestão (simbologia), ao expor-se à importância da unificação do espetáculo (ordenando, entrosando e articulando os elementos criando a tridimensão cênica), havia toda uma liberdade de expressão em suas criações, e, como todo vanguardista, sofreu enormes pressões e manifestos de negação sobre sua obra, vindo a ter uma enorme crítica, fazendo com que nos deixasse mais obras no papel do que realmente em cena.
Appia era um mago da luz e a tratou como um "personagem" de cena, e não simplesmente como recurso plástico.Suas concepções para as óperas wagnerianas são referência de estilo minimalista e sofisticação artística.Um gênio.

...e sua obra.
















Sem muito texto. Só mesmo para colocar aquí alguns livros de Lipovetsky que são leituras certeiras rumo à consciência do que é estar no mundo hoje.

O homem...


Gilles Lipovetsky. Sem muito texto, só mesmo para apresentar ou homenagear este pensador fundamental para a compreensão destes nossos tempos pós-tudo.

US and THEM
















O fotógrafo britânico Danny Treacy formou-se no Royal College of Art, em Londres, no ano de 2002, e foi premiado com uma bolsa de pós-graduação para realizar uma exposição numa galeria de arte. Daí o artista fez esta série de fotos intituladas "Them", onde ele veste combinações de peças de roupas colhidas ao acaso, pelas ruas e lugares onde foram descartadas por seus antigos usuários. A apropriação destes ítens de vestuário por ele passa pelas re-discussões sobre identidade, sobre alteridade e sobre preconceitos que temos com os "outros" com os quais convivemos. As peças de roupas são usadas mantendo seu estado físico natural, ainda imantadas pelos sinais dos seus antigos donos: secreções corporais, odores e moldagens particulares criadas pelo uso constante. O resultado final é que "Eles" são nós e eles são eles. Nas palavras de Danny, "Eles' são as invenções de sua imaginação e desejo. 'Eles' são feitos de recuperação de roupas recolhidas naqueles lugares solitários - a floresta, o deserto, o estacionamento - e são re-estruturadas e re-costuradas em sucatas monstruosas. 'Eles' são o pesadelo das passarelas, rondando a periferia do extravagante mundo fashion".
Como é bom ver um artista oxigenando áreas repletas e ares viciados. Vejo o trabalho de Treacy como um ótimo parâmetro de visão das criações da arte e da moda, unindo ambas linguagens para falar da outridade, do convívio e da divisão de terrenos sociais, sempre preconceituosos e limitados. O uso das roupas, um dos nossos mais intrincados códigos de pertença, como base de reflexão estética e humana abre para todos uma nova perspectiva de se ser.

domingo, 18 de outubro de 2009

Agora é cinza, tudo acabado e nada mais...




Na noite de sexta-feira passada, dia 16 de outubro, um incêndio destruiu 90% das obras de Hélio Oiticica que estavam em poder a família. Na foto acima o irmão mostra o resultado do fogo e só resta para nós o lamento. Nesta mesma sexta o jornal Folha de São Paulo publicou uma matéria sobre a super valorização da arte brasileira no mercado internacional, onde citou os nomes de Lygia Clark, Marepe, Tunga e...Hélio Oiticica. Calcula-se um prejuízo de 200 milhões de dólares, na previsão do irmão César, que preside o Projeto Hélio Oiticica, que era responsável pela manutenção das obras. Nada estava no seguro e foram-se importantes peças das séries parangolés, bólides e bilaterais. Tragédia para a arte brasileira.


Me lembrei imediatamente do incêndio que varreu o acervo do MAM do Rio de Janeiro, em 1978, outro episódio a ser eternamente lamentado pois foram-se obras importantes da história da arte brasileira, além de peças de artistas internacionais, sem esquecer que acontecia no museu uma mega-exposição do artista uruguaio Torres Garcia, toda perdida. Eu estava no Festival de Inverno de Ouro Preto naquele momento e a notícia caiu como uma bomba sobre todos.


A obra de Hélio Oiticica sempre pediu interação e com esta mudança de estado das suas criações originais, torna-se pública a posse de suas idéias, já que está na internet seus projetos, prontos para serem executados por quem desejar. Repliquemos Hélio e promovamos sua eternidade.


sábado, 17 de outubro de 2009

QUEM NÃO TEM CÃO...







Os irmãos Campana são geniais. Tudo que vejo deles é cheio de surpresas e humor. Nesta semana ví duas criações deles que só fizeram reforçar minha admiração: uma camisa que fizeram para a Lacoste e uma fruteira para a Alessi.



A camisa Lacoste é um delírio com o jacarezinho marca da empresa francesa. Inspirados nos jacarés do Pantanal, que se juntam uns sobre os outros na beira dos lagos e rios, os dois designers brasileiros fizeram uma superposição da logo que cobre toda a área da camisa. O efeito é lindo e instigante e postei uma imagem para vocês conferirem.



Já a fruteira da Alessi é uma variação de uma série de outros utensílios domésticos, que vai desde centros de mesa até porta guarda-chuvas. A leveza e os vazados dos metais prateados dão uma outra dimensão para as peças, quebrando com a massa matérica que normalmente a função destes utensílios pede. Confiram também na imagem acima.



Sempre tive vontade de ter algo destes caras. Já aconteceram oportunidades que tive de descartar por estar em viagem e não ter como me deslocar carregando objetos de dimensões um tanto quanto exageradas (pelo menos para quem viaja de ônibus...). Mas quebrei o galho recentemente adquirindo a bolsa que eles fizeram para a Melissa. O desenho é lindo e a peça é uma síntese do pensamento deles: humor leve, ideia e praticidade. Esta bolsa fica em cima do meu sofá da sala e faz um interessante contraste com os outros objetos que também estão lá. Bem, já tenho o meu private Campana...rs...

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

MATADOURO 5



OI amigos.
Olha só o que encontrei: um texto que escreví sobre o livro Matadouro 5, escrito em 2007. Deixo aquí para fazer parte com os outros comentários sobre Dresden e Vonegutt.

Nos anos 70 o diretor George Roy Hill fez um filme intitulado Matadouro 5 originado no livro Slaughterhouse five or the children’s cruzade de autoria de Kurt Vonnegut. O impacto da película levou muita gente a descobrir e se apaixonar pelo escritor americano e, desde lá, seguir sua bibliografia repleta de surpresas e fina ironia. Kurt Vonnegut morreu neste último dia 11 de abril devido às complicações cerebrais geradas por uma queda sofrida em sua casa em New York. Casado com a fotógrafa Jill Krementz, o autor de 84 anos deixa um legado literário de valor inquestionável.
Mesmo com muitas publicações ainda em edições atuais (ver as lançadas no Brasil abaixo), foi com seu semi-autobiográfico “Matadouro 5” que Kurt se projetou no universo literário. Com conteúdo delirante ele conta a história de Bill Pilgrim, um pacato cidadão americano, escritor, que nos anos 70 passa por experiências estranhas de deslocamento no tempo que misturam seu cotidiano monótono com viagens ao passado, quando era soldado na Segunda Grande Guerra, e a um futuro (?) num planeta distante onde vive um tórrido romance com uma mulher ideal. A construção de humor absurdo que Vonnegut imprime ao texto é um achado o que o torna um daqueles livros típicos que não se consegue parar de ler.
A parte autobiográfica se remete ao fato de Kurt ter sido pego pelos nazistas na Europa quando era soldado das fileiras americanas. Prisioneiro de guerra,foi levado para a cidade de Dresden onde os alemães mantinham campos de capturados aproveitando antigos prédios onde funcionaram matadouros de gado. A cidade era considerada terreno neutro pelos dois lados, já que não tinha objetivo militar algum, desta forma os alemães também a preservavam, pois era considerada um monumento histórico de seu país por ter um conjunto arquitetônico barroco de beleza única. O impacto da beleza da cidade e suas ruas repletas de obras de arte foi tão grande que Kurt coloca o personagem Bill Pilgrim vivenciando o mesmo arrebatamento que ele viveu quando nela chegou. Mas isto não durou muito. Com o intuito de dar um golpe fatal na moral alemã a força aérea aliada faz um bombardeio arrasador sobre a cidade indefesa - que sequer possuía defesa anti-aérea - despejando toneladas das terríveis e incendiárias bombas de fósforo, causando um incêndio devastador que destruiu a maioria dos prédios históricos e matou mais gente que Hiroshima. Como a história é contada pelos vencedores esta passagem de crueldade se diluiu por um bom tempo até que as narrativas dos que vivenciaram o fato se impuseram e vieram à tona.
Vonnegut escreveu “Matadouro 5” logo após o término do conflito, mas seu lançamento demorou quase duas décadas depois, pegando a sociedade americana imersa no conflito da Guerra do Vietnã. Aliás, a grande produção do autor remonta aos anos 50 e teve igualmente um reconhecimento tardio. O livro fez um enorme contraponto com a literatura realista americana que vingava na época. Com sua criatividade - que misturava crítica social com ficção científica, adicionada de pitadas de absurdo e bizarrices-, Kurt abalou uma estrutura inteira com seus anti-heróis, sendo, com isto, perseguido e acusado de ser até mesmo obsceno. O que sobrou de todo este conflito foi a vitória de um trabalho que moldou a literatura da América no século passado.
Fumante inveterado, crítico ácido da sociedade americana, ele próprio não se poupou de julgamentos severos: uma frustrada tentativa de suicídio em 1984, serviu para se auto-ridicularizar perante uma platéia “middle class” boquiaberta. Sempre defensor do livre-pensar e da vitória da imaginação sobre o progresso científico/tecnicista, o autor passou seus últimos anos escrevendo para revistas e, em 2007, foi homenageado pela sua cidade natal, Indianápolis, com a instituição do “ano Vonnegut”. Agora, já do “outro lado”, temos na voz do gigante Gore Vidal a lembrança de que, com a morte dele, sobram poucos grandes escritores que lutaram na última grande guerra.
A cidade de Dresden é atualmente um dos principais investimentos de restauração patrimonial do governo alemão. Com um trabalho de ajuntamento das minúcias do que sobrou do bombardeiro e de pesquisa histórica, aos poucos a cidade renasce em seu esplendor barroco. Sempre que vejo fotos da reconstrução desta cidade, patrimônio da humanidade, me vêm à mente o trabalho de Vonnegut e seu relato trágico desta barbárie cometida por aqueles que diziam defender a liberdade humana. Foi um ato covarde que poderia ter sido esquecido se não fossem pessoas como o autor para colocar o dedo na ferida.
Lançados e ainda não esgotados no Brasil: “Um Homem sem Pátria”, Ed. Record (R$31); “Matadouro 5”, L&PM (R$15); “Destinos Piores que a Morte"Editora Rocco (R$24) e "Café da Manhã dos Campeões", L&PM (R$17).

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Irving Penn is dead!




Irving Penn morreu nesta semana. Estou treinando escrever algo sobre esta perda para a fotografia e para muita gente. A gente passa a vida agregando os outros na gente e quando um dos agregados morre, ficamos meio incompletos. Escreví um livro sobre fotografia de moda e Penn figura lá de modo especial, porém preferí recorrer a outro texto sobre ele que reproduzo abaixo para não ficar muito particular minha opinião sobre ele aquí.
Irving Penn morreu. Viva Irving Penn!!!


QUESTIONAMENTOS DE IRVING PENN


Por HENRIQUE MARQUES-SAMŸN (*)
(hmsfoto@yahoo.com.br)
colunista do site Moda Almanaque

Irving Penn revolucionou um sem-número de gêneros fotográficos; no entanto, o campo da fotografia de moda é um daqueles em que sua marca foi impressa de forma mais profunda. De fato, é difícil imaginar o que seria da foto de moda contemporânea sem a seminal influência da estética de Penn - criador de uma beleza elegante e simples, mas construída com um rígido formalismo e uma sensibilidade incomum.

Quando Penn chegou à Vogue, ainda na década de 1940, estranhou o sofisticado ambiente que ali havia encontrado. Não conhecia os cânones e normas com as quais tão subitamente havia se deparado; pra completar, havia sido contratado por Alexander Liberman para dar idéias para capas da revista, mas os fotógrafos simplesmente ignoravam suas recomendações. Não havia outra escolha, a não ser fazer as coisas ele mesmo: Penn pegou a câmera e realizou, por conta própria, suas idéias. Uma feliz decisão: a imagem que levou para Liberman foi a primeira das mais de cem capas da Vogue criadas a partir de suas fotografias.

Esta atitude "do it yourself", mescla de inconformismo e uma criatividade sem barreiras, guiou Irving Penn pelos mais distintos caminhos, dos quais jamais escapou devido a seus incontáveis questionamentos. Seu equipamento mudou inúmeras vezes; tecnicamente, tornou-se um virtuoso, utilizando diferentes câmeras para diferentes trabalhos conforme suas necessidades estéticas. Realizou, em 1949, uma notável série de nus com grandes mulheres - à la Rubens ou Renoir - que, se na época causou estranhamento até em Edward Steichen, outro dos grandes mestres da fotografia do século XX, foi aos poucos sendo reconhecida como uma obra de valor artístico indiscutível.

É esta versatilidade - ou genialidade - o que coloca em maus lençóis tantos críticos que escrevem sobre Penn. Embora suas fotos de moda assemelhem-se àquelas criadas pelos olhares aristocráticos de pioneiros como De Meyer ou Huene, dificilmente seria possível encerrá-lo sob a máscara da sofisticação quando o próprio Penn reconhece que chegou à Vogue como uma espécie de selvagem entre uma refinada elite; embora seu formalismo vá contra muitos dos experimentalismos de vanguarda, seus stills com referências ao memento mori - a arte que, lidando com objetos podres ou putrefatos, relembra ao homem sua finitude - colocam em questão a própria idéia de vanguarda; embora seu cultivo da pose remeta à foto de moda das décadas de 20 e 30, seu minimalismo e despojamento inserem-no claramente na contemporaneidade que ele mesmo ajudou a criar.

As imagens de Penn tipicamente abandonam fundos e efeitos elaborados em nome de uma imagem simples e expressiva, de notável concentração nos modelos ou acessórios fotografados. Penn optou, desde o princípio, por suprimir os elaborados cenários, usando fundos simples e explorando diferentes poses - ou seja: conscientemente optando pelo essencial, o que foi suficiente para um percurso no qual desenvolveu verdadeiras obras-primas. Eis, mais uma vez, a reafirmação de que, na fotografia, o fator determinante é o próprio olhar do fotógrafo - que, no caso de Penn, está na gênese de uma estética inovadora por seu rigor e por sua sensibilidade rara.

O lugar de Irving Penn é, afinal, singular. Idealmente atemporal, já por seu propósito de atravessar os séculos de história da pintura e da moda em uma trajetória essencial; inclassificável, por sua própria relutância em seguir qualquer trilha sem submetê-la aos mais radicais questionamentos, a obra de Penn representa um lugar único em meio aos mundos da fotografia.

Simples sofisticação


Na última visita que fiz a Inhotim não conseguí resistir e comprei uma peça do designer Pedro Petry. Sempre admirei o trabalho dele, executado com uma percepção extraordinária da potencialidade de madeiras "não nobres" como macieiras, pereiras e caquizeiros. Com este material na mão ele consegue retirar um desenho de limpeza extrema e de simplicidade desconcertante, mas que causa impacto justamente pela liberdade que dá para que eles se mostrem em toda sua beleza.

Trabalhando sensivelmente as superfícies brutas, Petry deixa um pouco da originalidade do tronco, fazendo um contraste com a interferência humana. O resultado é muito bonito e retoma o tema da reciclagem, da ecologia e do design sem ser óbvio. Eu estava olhando uma fruteira dele na vitrine da loja do Instituto, mas cheio da dúvida financeira (é caro...rs...), mas por sorte estava comigo um grande amigo, Miron Soares, que é designer de móveis e que fez um comentário sobre Petry que me fez enfiar a mão no bolso e adquirir a peça: "Deve ser ótimo conviver com uma peça dele", disse o amigo. Fui convencido!

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

A cidade que ressurge







Deixo algumas imagens das obras de restauração que recuperam parte do acervo barroco de Dresden. Inúmeras obras de arte foram perdidas para sempre e ainda há muita a ser feito.

Monumento de cultura e barbárie







Comprei num sebo no Campus um livro intitulado The Destruction of Dresden, de David Irving. Lí rapidinho durante meus trajetos em ônibus interurbanos entre minha casa e o trabalho. O assunto não me era estranho: desde que assistí ao filme Matadouro 5 (George Hill, 1972) a história dramática da cidade de Dresden ficou gravada na minha mente. Ano passado, quando estive em Praga, pensei em ir até a vizinha cidade alemã para vê-la, mas a possibilidade de não conter a emoção foi determinante e decidí não ir. Às vezes sou possuído por um arrependimento terrível por ter optado em não ter feito a viagem, mas o terror do confronto com a barbárie humana foi maior que eu.



Dresden era uma cidade que concentrava um grande e uniforme acervo arquitetônico do período barroco. Igrejas, palácios, uma casa de ópera e prédios residenciais e comerciais formavam um conjunto de beleza estética e importância histórica. Este foi um dos motivos para que a cidade ficasse fora das estratégias militares durante a II Guerra Mundial. Além do precioso acervo cultural, foi montado, nos enormes matadouros da cidade, uma estrutura para abrigar prisioneiros de guerra, fazendo com que Dresden não se transformasse em alvo dos aliados. O autor Kurt Vonnegut muito bem descreve o que era a beleza urbana da cidade no seu livro alucinado, que gerou o roteiro do filme. Mas nada disto adiantou.



Mesmo com toda esta condição não-estratégica da cidade, que sequer possuía defesas aéreas, o alto comando militar dos aliados - ingleses e americanos - decidiu bombardeá-la para solapar a moral já combalida dos alemães naquele ano de 1945, e assim, no dia 13 de fevereiro daquele ano, três ondas de aviões se alternaram fazendo cair sobre Dresden uma chuva de bombas arrasa-quarteirão e de artefatos de fósforo, altamente incendiários. A cidade ardeu por 10 dias e o incêndio pode ser visto a quilômetros durante a noite e, durante o dia, uma fantasmagórica núvem de fumaça atravessou a Europa Central fazendo cair uma chuva negra composta das cinzas geradas na fogueira urbana em que a cidade se transformou.



Morreram 135 mil pessoas, vitimadas pelas explosões, incêndios e pela falta de oxigênio, que era rapidamente consumido pelas chamas. Foi a maior matança da II Guerra, quase o dobro das mortes de Hiroxima. E, desta forma cruel, Dresden foi varrida do mapa.



Hoje, mais de 60 anos depois, parte da cidade já foi reconstruída mas o convívio com as ruínas ainda persiste. O que assola nossa alma nesta história não é só a dimensão apocalíptica do fato, mas o deparar com a barbárie humana. A beleza e a cultura não foi argumento diante da brutalidade do alto comando militar, e a Humanidade viu-se privada de um monumento à arte e à arquitetura. Hoje a Dresden é um monumento à resistência do Homem.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

INHOTIM, UMA EXPERIÊNCIA











Domingo estarei mais uma vez visitando Inhotim com os alunos do Instituto de Artes e Design. É uma experiência que não se esgota, aliás, se renova a cada visita. Gosto de ver as expressões das pessoas que vão até lá pela primeira vez: espanto! Deixo abaixo o texto de apresentação deles.


O Instituto Inhotim é um complexo museológico original, constituído por uma seqüência não linear de pavilhões em meio a um parque ambiental. Suas ações incluem, além da arte contemporânea e do meio ambiente, iniciativas nas áreas de pesquisa e de educação. É um lugar de produção de conhecimento, gerado a partir do acervo artístico e botânico.

Criado em 2005, Inhotim é uma entidade privada, sem fins lucrativos e qualificada pelo Governo do Estado de Minas Gerais como Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip).

Localizado em Brumadinho, a 60 quilômetros da capital mineira, possui um importante acervo de arte contemporânea e uma extensa coleção botânica. Em Inhotim, o meio ambiente convive em interação com a arte, e são o ponto de partida para o desenvolvimento de ações de caráter socioeducativo nas mais diversas áreas.

O representativo acervo de arte contemporânea de Inhotim vem sendo formado desde meados da década de 1980, e tem como foco obras criadas a partir dos anos 1960. Possui pinturas, esculturas, desenhos, fotografias, vídeos e instalações de artistas brasileiros e internacionais.

O Parque Tropical possui áreas que seguiram conceitos sugeridos pelo paisagista Roberto Burle Marx. A enorme variedade de plantas faz de Inhotim um local onde se encontra uma das maiores coleções botânicas do mundo, com espécies tropicais raras e uma reserva florestal que faz parte do bioma da Mata Atlântica.

Tudo isso fornece de base para o desenvolvimento de pesquisa, inovação científica e educação.