segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Egon Schiele






Em 1981 assistí ao filme Excesso e Punição em São Paulo, onde morava, e só fui revê-lo numa sessão no MOMA, em New York em 1999. Depois disso o filme sumiu, pelo menos da minha vida. Porém nunca esquecí algumas cenas e a abordagem que o diretor Herbert Vesely fez do episódio que levou o artista vienense Egon Schiele a ser julgado, em 1912, por ter abusado sexualmente de uma menina de 13 anos. Como podem ver, o tema é atualíssimo e não só por isto, mas também por levantar questões sobre o que é arte e o que é pornografia, assunto nunca muito claro para as cabeças moralistas. Por sorte o filme foi lançado em DVD no Brasil, o que viabilizou meu reencontro com esta obra que retrata de modo peculiar o acontecimento.
Estrelado por Mathieu Carriére, no papel de Schiele, o elenco possui nomes surpreendentes como Marcel Ophuls, Jane Birkin e Christine Kaufmann que seguram a onda do diretor. A concepção da montagem é interessante, com boa direção de arte e uma trilha que faz seu papel de incrementar as cenas com peças de Felix Mendelsohn, Anton von Webern (verdade!!!) e pequenas composições do genial Brian Eno, retiradas de seu disco "Music For Films". O resultado agrada.
Porém é mesmo o assunto a grande levada do filme: Schiele foi revolucionário e talvez seja o grande nome das artes do período expressionista vienense, fazendo frente a Klimt, que aparece na trama como um "engajado" na sociedade endinheirada de Viena, quase como um ícone estético do que mesmo um artista pensador. As cenas de Klimt descendo as escadas do palácio ou trabalhando no seu ateliê cercado por mulheres maravilhosas e luxo dá uma boa medida para a desgraça que Schiele está passando. E nisto o diretor não economizou: todo o drama e a descida aos infernos (todos eles:econômico, afetivo, social, físico e artístico) do controverso criador foi muito bem descrita e nos envolve mais através do nosso espanto de que alguns assuntos ainda estejam mal resolvidos hoje do que com o barbarismo das situaçãoes da época. O calvário de Schiele parece ter imantado sua obra que chegou até hoje com a peja de "maldita", mas que é, indubitavelmente, repleta de um talento que faz com que possamos reconhecê-lo como um dos mestres das artes.
Bem, a quem interessar possa, fica a nota que é difícil ver um filme com tantas mulheres lindas e nuas como nesta produção: elas povoam os fotogramas com fartura. Jane Birkin está esplendorosa.

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