quarta-feira, 21 de julho de 2010

VISIONAIRE MAGAZINE






Teoricamente uma revista de tiragem baixa, periodicidade escassa, custo altíssimo e nenhuma publicidade está fadada ao fracasso. Exceto por um fenômeno de mídia chamado Visionaire. Surgida em 1991, a revista tem sede em Nova York, circula com entusiasmo pelo fashion world e tem cara de Paris: cada edição é única no formato e no conteúdo. Cada exemplar recebe acabamento manual como os modelos de alta-costura, o que lhe rendeu a fama de "a alta-costura das revistas" no mercado internacional. Além disso, cada edição coincide com uma estação do ano, seguindo o calendário da moda que trabalha com as coleções de primavera, verão, outono e inverno.

Mas Visionaire não é uma revista de moda, embora seja a revista da moda. "É uma galeria em forma de revista, em forma de livro de arte, é um workshop de criação onde o mundo das artes visuais tem liberdade total de expressão, cada artista pode propor o que quiser", diz Stephan Gan, 32 anos, fundador e sócio da publicação.

Filipino, filho de chineses, Gan migrou para os Estados Unidos aos 18 anos. Teve uma breve passagem pela Parsons School e logo virou editor de moda da revista masculina Details. Aos 24 anos e com US$ 10 mil no bolso, ele e os amigos Cecilia Dean (modelo) e James Kaliardos (maquiador) se uniram para realizar o sonho de muitos profissionais que trabalham com moda: lançar um veículo livre, independente e com plena liberdade de criação. "Percebemos que nossos amigos tinham expectativas frustradas com as revistas e clientes para quem trabalhavam, sem poder publicar o que eles realmente preferiam", conta Gan.

O primeiro número foi uma compilação de imagens preferidas: "Sob o mesmo formato, colocamos uma aquarela ao lado de uma foto de moda, um desenho de nu ao lado de uma colagem." A tiragem de apenas mil exemplares foi uma imposição da pouca verba de que dispunham (US$ 10 mil), mas o reduzido número de exemplares acabou se transformando em mais um atrativo num meio que preza a exclusividade e a originalidade. "Pode parecer arrogante, mas as pessoas adoram o fato de terem um objeto de tão poucas cópias no mundo", declara Gan.
Embora já estivesse devidamente estabelecida no mercado, a Visionaire deu uma virada há dois anos, quando lançou sua primeira edição com patrocínio. A revista veio dentro de uma pasta confeccionada especialmente pela Louis Vuitton, que virou hit absoluto na fashion net. Desta experiência, surgiram outras parcerias como as edições Beauty (patrocinada pela Prescriptives) e Diamond (patrocinada pela H. Stern).
Outras vezes, Gan passou a convidar um editor especial. A estilista japonesa Rei Kawakubo (da grife Comme des Garçons) foi a primeira, depois vieram Karl Lagerfeld, Mario Testino (que, ao criar um diário dos anos 90 sob o título Chic, substituiu algumas páginas por tecidos exclusivos e juntou um guardanapo com um beijo de Paloma Picasso a um pedaço do vestido usado por Madonna e ao faxsímile de um bilhete de Catherine Deneuve a Saint-Laurent) e Tom Ford, da Gucci. "Ford queria algo que remetesse ao futuro e surgiu o tema Light que nos levou a brincar de engenheiro eletrônico para conseguirmos executar uma revista que se acendesse ao ser aberta", diz Gan. Light, uma revista em forma de caixa de luz de acrílico preto, foi a edição mais cara: US$ 450 nos EUA, mais US$ 85 só de postagem para algumas cidades do mundo. "O que mais nos estimula é o desafio de inventar algo excitante que ainda não fizemos", diz.
Assim, a Visionaire se mantém única no mercado (apesar de algumas tentativas de cópia surgirem aqui e ali). "Somos uma revista de moda que não publica necessariamente roupas ou tendências, mas sim um álbum de imagens que inspiram moda", define. A proposta ambiciosa gera sempre grande expectativa a cada edição, tanto pelo tema quanto pelas festas memoráveis que acompanham seu lançamento. "Estamos ficando mais famosos pelas festas", brinca. Então, aguce sua expectativa. A revista que realiza e surpreende até as fantasias de quem tem poucas fantasias com a moda vai mexer com todas as fantasias.

Um comentário:

  1. Concordo com o fundador da revista. Eu curto muito minha caixa do Laibach: "Occupied Europe Nato Tour" (exemplar 1518 de um total de 2000)

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