quarta-feira, 5 de janeiro de 2011
Wolfgang Welsch e a estética contemporânea
Wolfgang Welsch, professor de filosofia da Friedrich Schiller University Jena, vem tendo sua obra bastante estudada no meio acadêmico. O alemão é autor de diversos livros – nenhum deles traduzido para o português -, entre os quais é possível destacar Undoing Aesthetics, Aisthesis: Grundzüge und Perspektiven der Aristotelischen Sinneslehre e Unsere postmoderne Moderne. Como ele é uma descoberta recente para mim, selecionei este texto escrito por Wendel Freire sobre as propostas de Welsch para uma redefinição pós-moderna da estética.
A disciplina estética esteve sempre restrita a questões relativas à arte; entretanto, segundo Welsch, vivemos num mundo de estetização generalizada, cujos objetos adquirem, constantemente, uma funcionalidade primária de embelezamento. Uma aestheticization do mundo, com indivíduos – homu aestheticus – empenhados em estilizar o corpo, a alma e o comportamento. Soma-se a isso (sendo parte geradora desse processo) a mídia, que modifica maciçamente a estética, ditando padrões diversos, desejando tornar belo tudo o que toca.
Cabe aqui um link com Muniz Sodré e o que ele chama de bios midiático: nosso modus vivendi contemporâneo está profundamente influenciado pela comunicação, que constitui hoje muito mais que um corpo transmissor de informação: um ambiente, uma esfera cujo tecido orgânico é a informação. Assim, o autor de Antropológica do Espelho acrescenta aos três bios indicados por Aristótelis (do conhecimento, do prazer e da política) um quarto bios, que é o virtual, midiático.
Welsch propõe que a estética se torne transdisciplinar – com contribuições da filosofia, da história da arte, da sociologia, da psicologia, da comunicação, da antropologia etc. -, expandindo-se numa estética para além da estética – o que traria um importante upgrade para a própria análise da arte. Um cruzamento entre os dois autores, no que diz respeito à mídia, pode contribuir na compreensão dessa esfera informacional complexa que interfere em nosso modo de pensar o mundo, de viver, de ver os objetos (e de se tornar também objeto do olhar), de fazer literatura, política etc.
Ainda sobre a aestheticization, Welsch faz uma distinção entre uma estetização superficial (oberflächen), que estaria presente em fenômenos globais como o embelezamento estético da realidade, o hedonismo e a estetização como estratégia econômica, e uma estetização profunda (tiefen), que seria o influxo das novas tecnologias nas mudanças do processo produtivo e a composição da realidade pelos meios de comunicação.
Assistimos tais transformações acompanhadas de um esvaziamento brutal: tornando-se tudo belo, pulveriza-se o próprio conceito de belo – permitam-me mais um (breve) link no texto: a palavra pulverizar me remete à conceitualização de pós-modernidade pela professora Gilda Korff Dieguez, que tem o “pós” de “pós-modernidade” como plural de pó. Estética pulverizada. Estética em pó. Se tudo é belo, perde-se a distinção, significação e valoração da estética. Com esse processo de estetização intensificado, globalizado, tem-se o que o autor chama de anaestheticization, que seria a anestesia e a estetização num mesmo movimento. Portanto,. a estratégia de globalização da estetização acaba vítima de si mesma, pois gera uma indiferença estética.
As críticas às posições tradicionais da estética, feitas por Wolfgang Welsch, devem construir uma nova estética, ampliada na sua percepção e campo de atuação, entendendo seu condicionamento pelos novos meios eletrônicos e sua presença em nosso cotidiano, em nossa compreensão da realidade e nosso comportamento.
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