terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Sebastião/Vik/Marat






Estréia nesta sexta-feira, dia 21 de janeiro, o filme Lixo Extraordinário, documentário dirigido por Lucy Walker, João Jardim e Karen Harley, sucesso em festivais de cinema por todo o mundo, inclusive no Festival de Berlim de 2009 onde ganhou o prêmio máximo de melhor documentário. O filme conta a história da ação do artista brasileiro Vik Muniz no Aterro Sanitário de Jardim Gramacho onde fez uma parceria com os catadores de lixo para o munirem de material para sua obra, hoje conhecida por todo mundo. Foi lá que conheceu Sebastião Carlos dos Santos, presidente da Associação dos Catadores do Aterro. Foi um encontro que mudou a vida de Sebastião, mas no início a coisa não foi fácil.
Muniz chegara ao aterro - que recebe todo o lixo descartado na cidade do Rio de Janeiro - com um objetivo triplo: montar uma série de quadros a partir dos dejetos, colocar os catadores para trabalhar no feitio dos quadros e filmar tudo para o documentário "Lixo Extraordinário".
Após dois meses retratando o aterro sanitário, Muniz contratou cerca de dez catadores para montar as imagens, num galpão em Parada de Lucas, subúrbio carioca e pagava a eles R$ 75 por dia, quantia semelhante ao que receberiam com o que extaríam do lixo. Quem viabilizava o contato era Sebastião Santos, uma espécie de "embaixador de Gramacho", nas palavras de Muniz.
Sebastião começou a frequentar o aterro na infância, quando o pai, que trabalhava como estivador no cais do porto, se viu desempregado pela chegada dos guindastes. Sem opção toda a família se viu obrigada a ir para o lixão tirar dalí o seu sustento, mas ele, por ser muito pequeno só ía entregar a comida e passava o dia brincando nos montes de lixo.
Aos 18 anos, depois de ter se afastado do lugar, Sebastião resolveu voltar a Gramacho para trabalhar em uma cooperativa que recebia o material coletado. Nas noites de sábado, quando não estudava, ia para o aterro complementar a renda.
Numa incursão noturna, encontrou o livro "O Príncipe", de Maquiavel. "Eu conhecia a palavra 'maquiavélico", conta ele, "me deu uma neurose de ler aquilo. Levei pra casa, sequei atrás da geladeira e, partir daí, passei a pegar todo livro que encontrava." Depois da experiência que foi importante não deixou passar nenhum livro no lixão: catava e lia o que podia, entre as leituras leu Schopenhauer e Nietzsche.
Em 2007, dois anos após comandar um protesto contra a prefeitura, Sebastião foi eleito presidente da Associação dos Catadores. Logo depois de assumir ligaram para ele para dizer que um artista brasileiro queria fazer um trabalho com os catadores: era Vik com seu projeto.
No início Sebastião não seria fotografado: sua função seria de acompanhar Vik no aterro, para apresentá-lo aos catadores. Foi assim até o dia em que Zumbi, seu amigo, surgiu no meio do lixo, carregando uma banheira. Vik teve um estalo e disse, na hora: 'Vamos fazer o Tião de Marat? Ele morreu no banho. Resistente, Sebastião só cedeu à idéia após ouvir que Jean-Paul Marat (1743-1793) havia sido um dos líderes da Revolução Francesa."Combina comigo", disse ele. A foto foi feita e daí o quadro.
Em 2009 aconteceu um leilão na Phillips de Pury, em Londres, e a obra foi arrematada por 28 mil libras (74 mil reais). O dinheiro arrecadado foi revertido para a Associação dos Catadores e trouxe muita coisa boa que, segundo Sebastião, mais do que o dinheiro, o retorno profissional foi o mais positivo: "Hoje vou receber a visita de 21 alunos de uma universidade de Nova York que viram o documentário. Daqui a três dias, tenho um encontro no BNDES, para falar sobre o futuro do aterro, que deve ser desativado em 2012."
A amizade com Vik Muniz permanece: "Outro dia a gente se encontrou, no aniversário da filha dele. Às vezes, fico pensando quando vai dar meia-noite, e a carruagem vai voltar a ser abóbora. Mas não dá. Já faz três anos que esse meu conto de fadas não termina" , disse ele em entrevista recente na mídia.
Agora é assistir toda esta história no cinema.

3 comentários:

  1. Grande história .... e pobre do povo que joga filosofia no lixo.

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  2. feliz o povo que sabe encontrar ela lá. Afonso, puts! Impressionante este post! Emocionante. Obrigado, mais uma vez!

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  3. Realmente, você está coberto de razão.

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