quinta-feira, 7 de maio de 2009

O outro estranho

Passei boa parte do dia me dedicando à pesquisa bibliográfica e à redação do texto da minha dissertação de mestrado. Parte já está escrita mas me parece mais um Frankenstein, ou seja, um monstro feito das partes de outras pessoas. Me parece que esta sensação é meio comum a todos aqueles que se propõe a redigir um texto acadêmico, mas este é o caminho (e a norma) e no fim sai coisa boa e interessante. Sou um "mestrando temporão", e decidí fazer esta capacitação depois de mais de 30 anos na carreira universitária. Tenho muitos motivos para justificar tanto adiamento, mas o que interessa é que estou feliz por estar sentado na carteira da sala de aula e não lá na frente, de frente aos alunos. Na Faculdade de Letras fiz novas amizades entre os professores e os colegas, o que é muito gratificante, isto para não citar os novos ídolos surgidos dentre estes dois segmentos. E o mergulho numa nova área de conhecimento formal é arrebatador, no caso os estudos literários. Bem, feita a tarefa diária dos estudos, linkado no meu tema (produção literária marginal), me dei uma distração coerente: assistí ao filme "Freaks", de Tod Browning, uma obra maravilhosa dos anos 30, que é estrelada por pessoas portadoras de defeitos físicos, e faz um comentário incisivo e ácido sobre o verdadeiro lugar das deformações humanas: a alma. Não vou estender muito os comentários pois tenho um texto sobre o filme postado no site www.poppycorn.com.br e quem quiser (e se interessar) pode ler lá. O que me interessa agora é colocar num frente-a-frente o trabalho de Browning e o trabalho fotográfico de Joel Peter Witkins, que mostrei na minha última aula para meus alunos de fotografia. Acho o discurso de Witkins muito coerente com os aspectos contemporâneos que rediscutem e recolocam os critérios de beleza, estética, bom gosto e outros parâmetros de homogenização perceptiva. Há uma parte do trabalho deste fotógrafo ( na qual ele reconstrói, sob seus valores, grandes obras da pintura ocidental) que é desconcertante. E desconcerta justamente porque nos tira do nosso lugar e nos joga num outro patamar de percepção, criando um espaço novo onde, às vezes, só frequentamos em pesadelos ou percebemos através de uma bruma densa. A coragem deste artista em expor tamanha sombra é o que mais seduz no seu exercício plástico. Enquanto Browning parte da deformação externa para mostrar a beleza interna, Witkins mexe nos valores mais básicos que definem o belo e o feio, o perfeito e o defeituoso, a vida e a morte, o são e o podre, borrando as fronteiras entre estes conceitos. Deixo algumas imagens para incitar vocês a pesquisarem mais sobre Tod e Joel.

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