sexta-feira, 8 de maio de 2009

Mistérios do aquém


O projeto de marketing do filme "Cloverfield" planejou que em momento algum seria exibida a imagem do monstro. Mesmo na montagem do filme, o diretor relutou se deveria ou não mostrar o monstro totalmente, o que só foi decidido positivamente em função da alta qualidade do trabalho em computação gráfica realizado no desenho da entidade. Mas o marketing optou por subjetivar a figura monstruosa num truque gráfico localizado no cartaz do filme (que está postado abaixo). No canto inferior direito aparece uma Nova York envolta numa fumaça, à la atentado ao World Trade Center (assunto ao qual, aliás, o filme remete). O rebatimento simétrico deste detalhe de fundo revelaria o seu (dele) rosto, o que pode ser conferido na reprodução que ilustra este texto. Lá está o monstro, assustador e cheio de dentes como todos os seres assustadores (incluindo aí as "vaginas dentadas"). Adoro estas coisas. Me explico: adoro estes folclores pop que cercam as coisas efêmeras de bobagens misteriosas. Me fascina como as pessoas se rendem a discos (vinil, tá gente?) que ao serem girados em sentido contrário ouve-se algum ídolo pop dizer que "fulano está morto", ou "o diabo vencerá", ou qualquer outra coisa que ouvidos sedentos de frases apocalípticas anseiam em ouvir. Me lembro de um poster que era vendido nas calçadas e nas feiras hippies onde aparecia um menino chorando ao qual foi imputada a fama de ser o retrato da criança que determinada animadora de programas infantís havia sacrificado num ritual satânico em troco da fama e do dinheiro. Hoje acho que esta mesma animadora se esqueceu de pedir "juventude eterna" também pois anda derrubadinha, derrubadinha. Havia também a capa de um disco de uma proto-banda de heavy metal que, ao ser exposto frente a um espelho, revelava a imagem de um ser demoníaco. Sempre eles, né? os demoníacos. Nunca houve um caso sequer de alguém ver um anjo, um "ser de luz" ou algo que o valha, na capa do disco da Enya. Hoje estes mistérios não são mais necessários pois o vulgar tomou conta. Entenda-se por vulgar a total falta de subjetividade: padres cantores exibem explicitamente imagens religiosas de si mesmos, Marilyn Manson posa de besta do apocalipse sem nenhum problema, e por aí vai. Em resumo, como se não bastassem os mistérios do além, temos de conviver com estes mistérios do aquém. Só rindo.

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