quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Monumento de cultura e barbárie







Comprei num sebo no Campus um livro intitulado The Destruction of Dresden, de David Irving. Lí rapidinho durante meus trajetos em ônibus interurbanos entre minha casa e o trabalho. O assunto não me era estranho: desde que assistí ao filme Matadouro 5 (George Hill, 1972) a história dramática da cidade de Dresden ficou gravada na minha mente. Ano passado, quando estive em Praga, pensei em ir até a vizinha cidade alemã para vê-la, mas a possibilidade de não conter a emoção foi determinante e decidí não ir. Às vezes sou possuído por um arrependimento terrível por ter optado em não ter feito a viagem, mas o terror do confronto com a barbárie humana foi maior que eu.



Dresden era uma cidade que concentrava um grande e uniforme acervo arquitetônico do período barroco. Igrejas, palácios, uma casa de ópera e prédios residenciais e comerciais formavam um conjunto de beleza estética e importância histórica. Este foi um dos motivos para que a cidade ficasse fora das estratégias militares durante a II Guerra Mundial. Além do precioso acervo cultural, foi montado, nos enormes matadouros da cidade, uma estrutura para abrigar prisioneiros de guerra, fazendo com que Dresden não se transformasse em alvo dos aliados. O autor Kurt Vonnegut muito bem descreve o que era a beleza urbana da cidade no seu livro alucinado, que gerou o roteiro do filme. Mas nada disto adiantou.



Mesmo com toda esta condição não-estratégica da cidade, que sequer possuía defesas aéreas, o alto comando militar dos aliados - ingleses e americanos - decidiu bombardeá-la para solapar a moral já combalida dos alemães naquele ano de 1945, e assim, no dia 13 de fevereiro daquele ano, três ondas de aviões se alternaram fazendo cair sobre Dresden uma chuva de bombas arrasa-quarteirão e de artefatos de fósforo, altamente incendiários. A cidade ardeu por 10 dias e o incêndio pode ser visto a quilômetros durante a noite e, durante o dia, uma fantasmagórica núvem de fumaça atravessou a Europa Central fazendo cair uma chuva negra composta das cinzas geradas na fogueira urbana em que a cidade se transformou.



Morreram 135 mil pessoas, vitimadas pelas explosões, incêndios e pela falta de oxigênio, que era rapidamente consumido pelas chamas. Foi a maior matança da II Guerra, quase o dobro das mortes de Hiroxima. E, desta forma cruel, Dresden foi varrida do mapa.



Hoje, mais de 60 anos depois, parte da cidade já foi reconstruída mas o convívio com as ruínas ainda persiste. O que assola nossa alma nesta história não é só a dimensão apocalíptica do fato, mas o deparar com a barbárie humana. A beleza e a cultura não foi argumento diante da brutalidade do alto comando militar, e a Humanidade viu-se privada de um monumento à arte e à arquitetura. Hoje a Dresden é um monumento à resistência do Homem.

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